[trecho do capítulo Introdução do livro Inteligência Relacional, página 6, publicado em janeiro de 2022]
Um exemplo mais sofrido, foi de uma senhora mais idosa, certa vez, que desejava morrer (segundo suas palavras: “Que Deus me leve o quanto antes!”).
Empaticamente fui capaz de compreender sua situação: já era idosa, fora educada para ser uma perfeita esposa, vinda de uma cultura patriarcal. Seu marido nunca a deixara trabalhar, ela nunca fora independente ou rebelde, embora tivesse desenvolvido seus artifícios para conseguir algumas de suas vontades, inserida nessa relação de falta de liberdade e de rara autonomia. Curiosamente ela admirava a independência e a ousadia de mulheres mais jovens que não se subordinavam à cultura de sua época.
Viera de uma geração, já quase totalmente extinta, na qual uma separação conjugal era considerada um grande fracasso, e não tinha coragem de enfrentar destino semelhante! Então esperava resignadamente a morte, pois já estava muito cansada daquela vida, daquelas condutas e daquela identidade subserviente.
Naturalmente não havia coerência de seu desejo com a sua motivação biológica de viver!
Assim, conforme interpretava, permanecia aprisionada àquela situação: um organismo esperançoso de algo mudar que mantinham fantasias e perspectivas futuras sombrias de mais sofrimento e cárcere.