[trecho do capítulo Introdução do livro Inteligência Relacional, página 5, publicado em janeiro de 2022]
Certa vez, no início de minha carreira como terapeuta, em 1995, eu atendi uma cliente jovem com síndrome de pânico, segundo o diagnóstico de um profissional que a atendera antes de mim. Veio a mim já com tal rótulo, pois interrompera a terapia anterior por motivos pessoais.
Em conversa, soube que os sintomas da síndrome nunca se apresentavam quando ela fazia aquilo que queria ou de que gostava! Por exemplo, ela nunca manifestava os sintomas do pânico quando estava no shopping center! Também não tinha sintoma algum no trabalho, nem os apresentara quando estivera motivada a se envolver afetivamente numa relação extraconjugal. Ela mantinha um casamento de segurança e de aparências, filhos para criar e educar e alguns poucos compromissos como mãe, esposa e dona de casa.
No seu ambiente de trabalho tinha completa estabilidade emocional. De fato, seus sintomas e desesperos, bastante intensos, apareciam ao entrar no carro para viajar com o marido nos feriados e nos finais de semana – situações em que estava com ele!
Certa vez escutei que o perfil de pessoas com síndrome de pânico é de personalidades fortes e muito dominadoras. Eu não sou capaz de afirmar isso, porém, neste exemplo, certamente os seus sintomas controlavam sua relação conjugal insatisfatória, embora eu não acredite que ela criara tais respostas do seu sistema nervoso conscientemente ou estivesse fingindo.
Seus sintomas de pânico eram valiosos servidores para modular sua relação conjugal. Serviam-lhe com grande dedicação e fidelidade! Embora ela e toda a sua família sofressem com isso.
