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Tratamento de louco por Walther Kerth

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[trecho do capítulo Introdução do livro Inteligência Relacional, página 17, publicado em janeiro de 2022]

Um dos mais revolucionários psiquiatras norte-americanos, Carl Whitaker, professor de Bradford Keeney, demonstrou uma rara sabedoria ao receber uma família para uma sessão de demonstração dos princípios de seu método, dentro de um seminário para profissionais da área de saúde e comportamento.

Nessa família, na ocasião, havia um garoto esquizofrênico completamente surtado. Para lidar com isso, Whitaker fez uso de sua abordagem de terapia sistêmica de famílias.

A plateia, constituída predominantemente de médicos, psicólogos, terapeutas e assistentes sociais, ocupava um recinto em formato de arena, onde o mestre ficava num espaço de demonstração no centro da sala, rodeado pelos seus alunos sentados na arquibancada.

Por indicação de seu médico psiquiatra, aluno de Carl Whitaker, essa família aceitou as condições de um tratamento em público, dado que os avanços com o seu médico eram insignificantes. O médico propusera a demonstração com seus clientes para aprender com Whitaker. Isso é frequente como estudo de caso entre profissionais que estabelecem colaborações em seus processos de educação e atualização contínuas.

Todos os membros dessa família foram trazidos para a sessão de demonstração. Quando eles entraram na sala de atendimento (a arena rodeada de profissionais que estudavam com o mestre), o garoto estava completamente descontrolado, protagonizando uma tremenda confusão instalada nas interações daquela família!

crianca fazendo birra

Estavam todos tão agitados, que nem viram e cumprimentaram o médico antes de se sentar em círculo, nas cadeiras já posicionadas no centro da arena.

Mesmo após se acomodarem nas cadeiras (em uma delas estava sentado o próprio Whitaker, serenamente), os membros da família permaneciam em conflito, aos berros, quase todos falando ao mesmo tempo, sem que nenhum outro familiar lhes desse qualquer atenção. Os desentendimentos continuaram e apenas dois membros da família deram atenção a Whitaker, que permanecia em silêncio.

Sem exigir silêncio ou a atenção dos presentes, o psiquiatra começou a falar em tom de voz normal, que poucos ouviram conscientemente. Após a introdução, Whitaker adormeceu na cadeira, como era seu costume.

Passados alguns minutos, ele despertou, disse mais algumas palavras com tranquilidade e, novamente, adormeceu! Esse comportamento do médico repetiu-se várias vezes ao longo da sessão terapêutica. Acordava, falava pouco e voltava a cochilar.

Aos poucos, cada membro da família foi se acalmando. Mesmo o garoto surtado foi se tranquilizando, contra todas as expectativas dos participantes do evento. Isso nunca tinha acontecido dessa forma e até o final da sessão, espantosamente, estavam todos conversando educada e respeitosamente, cada um falava por sua vez. Falavam, escutavam e aceitavam os pontos de vista uns dos outros, de maneira civilizada!

Os profissionais que assistiam à demonstração estavam completamente aturdidos e boquiabertos, além de curiosíssimos com a intervenção.

Quando o atendimento foi encerrado, reinava uma grande paz na família, que foi retirada da sala após cada membro despedir-se e agradecer profundamente ao psiquiatra.

Na sala permaneceram apenas Whitaker e seus discípulos em polvorosa, como se, a partir da saída de família, a “loucura” tivesse tomado os seus alunos, profissionais da saúde! Whitaker foi “bombardeado” com inúmeras perguntas dos presentes, que ficaram muito agitados.

Nunca, provavelmente, nenhum deles jamais vira uma intervenção sem sentido como essa, em que um renomado médico dormia diante de uma família inteira surtada e, sem medicação ou repreensão alguma, tudo se normalizou em apenas uma única sessão, de pouco menos de uma hora!

Questionavam: “Mas nada foi feito tecnicamente…”, “Como você conseguiu esse resultado?”, “Como você conseguiu acalmar aquelas pessoas?”, “Como retirou o garoto do surto sem nenhum medicamento?” etc.

Pacientemente, o mestre escutou todas as perguntas aguardando em silêncio a sua oportunidade de falar, à medida que os profissionais de saúde também se acalmavam muito devagar. Enfim, com apenas uma única frase, conforme era seu estilo, respondeu: “Em cada sistema (ambiente) existe espaço para apenas UM único louco!”

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