[Apêndice 1 do livro Inteligência Relacional, página 259, publicado em janeiro de 2022]
Tudo começou no final da década de 1970, com dificuldades de aprendizagem motora, especificamente, na prática esportiva.
De lá, as adversidades mudaram de escala para o desempenho emocional e o foco de atenção em competições esportivas. Depois vieram os negócios. Com os negócios vieram as dificuldades nos relacionamentos, em vários âmbitos de vida.
Quando vários destes problemas se acumularam, o sofrimento existencial culminou com a busca de terapia. Ao longo de décadas, testei muitas abordagens diferentes. As abordagens que me proporcionaram maiores avanços, foram escolhidas por sua eficácia, e são mencionadas aqui. Todas elas, cada uma a seu tempo, contribuíram para solucionar vários problemas.
Conforme elas me transformavam, os negócios voltaram a atrair a atenção, pois o uso das técnicas e métodos havia também se tornado uma fonte de sustento e renda.
Assim, grande parte do conteúdo apresentado neste livro tem íntima relação com a experiência pessoal e o despertar da criatividade de uma pessoa que um dia pensou que podia viver somente da lógica! Lógico.
Sim, com o passar dos anos e o amadurecimento emocional, a lógica revelou ser uma impostora como governante! De partida, por não existir apenas uma lógica!
Muitas vezes ela fez o papel de vilã, quando aprisiona suas vítimas nos labirintos do pensamento, nos prós e nos contras e em tantos outros artifícios dos quais somente os sentimentos e as emoções podem nos libertar.
Já foi definitivamente proposto pelos neurocientistas que nossas escolhas e decisões não têm muita lógica!
Todas as histórias que contamos são selecionadas e confirmadas somente após as decisões e escolhas que fazemos. Elas se configuram para justificar nossas opções, pois vivemos numa cultura das justificativas.
Então devemos jogar fora a vilã? Não, em hipótese alguma. Ela faz parte, porém não como líder. Pois ela sempre anda em bando, isto é, não existe uma única lógica. Para chegar a esta conclusão, basta você se lembrar da última decisão difícil que tomou.
Mesmo raciocinando logicamente, suas opções, lógicas e ilógicas, o(a) paralisaram por algum tempo, até recolher maiores informações e evidências sobre o que era realmente importante.
Se você não concordar com isso, basta comparar a lógica masculina com a feminina.
Sim, existem muitas, mesmo dentro da Matemática, a mais humana das ciências, pois trata da linguagem do pensamento! Não há necessidade de irmos mais fundo nessa conversa.
Para contextualizar esta apresentação de métodos, começarei dizendo que a origem dos conhecimentos aqui propostos está na neurociência, em várias ciências do comportamento, nas pesquisas sobre comunicação humana, na solução de conflitos e em modelos de gestão de negócios e de gerenciamento de crises.
O meu enquadramento no uso de cada uma destas metodologias, apresentadas neste apêndice, parte sempre do mesmo ponto de vista: “Como é possível estimular o processo criativo humano para proporcionar melhores recursos a fim de solucionar os problemas das mais diferentes naturezas, que enfrentamos todos os dias e a todos os momentos?”.
É importante compreender aqui que esta sentença “estimular o processo criativo humano” tem implícitas todas as possibilidades de renovação, sublimação e transformação que as experiências de vida são capazes de trazer para nós sermos capazes de aprender tanto com os nossos sofrimentos quanto com as nossas limitações.
De uma forma geral, além dos métodos de solução de problemas com viés terapêutico ou com viés educacional, em nenhum momento podemos ignorar que existem várias outras formas da vida e da Providência contribuírem para integrarmos nossos “bloqueios”, transcendermos nossas dificuldades, crescermos com nossos desafios, desenvolvermos nossas habilidades e nos tornarmos capazes de expressar nossas melhores competências e qualidades. Entre eles, menciono alguns:
Necessidades insatisfeitas
Sim, esta condição biológica de existência nos lembra insistentemente que precisamos agir para satisfazermos nossas necessidades.
Nos animais isso se manifesta na forma de instintos.
Nos seres humanos, isso predominantemente se expressa através de nossas insatisfações. Elas nos movem pela vida e, muitas vezes, nos levam aos caminhos e desafios em que desbloqueamos naturalmente várias inibições ou limitações. A história humana está recheada de exemplos desta natureza.
Motivação e/ou força de vontade
Embora não haja espaço aqui para explicar detalhadamente como as nossas necessidades insatisfeitas se convertem em motivações (tratarei disso no segundo volume do tema de aquisição de novos idiomas), nossos desejos e nossos anseios operam de forma parecida com as necessidades para nos impelir em direção às soluções e resgates mais urgentes para que sejamos capazes de alcançar nossos objetivos.
Uma diferença simples no processo é que necessidades insatisfeitas produzem desconfortos biológicos enquanto que sonhos e anseios ignorados geram desconfortos existenciais ou emocionais. Reflexões mais detalhadas sobre isso serão apresentadas no Manual de Resiliência e no livro Quem sou eu?.
Circunstâncias de vida
Sim, se não fazemos por espontânea vontade, muitas vezes, as circunstâncias de vida se encarregam de nos colocar em situações em que superamos nossos desafios ou integramos os nossos bloqueios por sermos convocados a sobreviver ou por sermos mobilizados por razões viscerais para nos comportarmos de formas diferentes.
Já ouvi exemplos disso em abundância. Um dos que me lembro foi de uma cliente que contou que tinha bloqueio para dirigir. Até que seu pai, com quem vivia, passou mal e, sem ter a quem recorrer na situação, ela pegou o carro e o levou para o pronto-socorro, superando todos os seus medos para salvar o pai de seu sofrimento.
Outros exemplos didáticos desta categoria, envolvendo o princípio de estimulação do processo criativo inconsciente, está nas histórias do homem que vendia ignorância e do homem que vendia fracassos!
Aprendizado
Já introduzi este assunto quando tratei das motivações transcendentes para aprender.
Podemos nos expor a novos desafios que nos exijam mudanças de atitudes ou de comportamentos que sirvam em outros contextos.
Também podemos buscar diretamente experiências de vida que nos proporcionem o enfrentamentos de nossos mais assustadores bloqueios, como muitas pessoas fazem. Como exemplo é arriscar-se a falar em público quando se reconhece alguma insegurança ou medo de fazer isso!
Muitas pessoas superam seus medos ou fobias de falar em público, ou a timidez, enfrentando-os como se fossem opositores.
Formas mais respeitosas e compassivas de enfrentar tais desafios é buscar dividir os grandes em pequenos desafios que tragam menos sofrimento, treinando gradativamente as subcompetências de alguma habilidade mais complexa ou desafiante (o próximo volume que trata dos idiomas apresentará este passo a passo da construção de estratégias de aprendizagem).
Aqui ainda se incluem as buscas espirituais, as práticas de meditação, esportes em geral, artes etc.
Educação
Assumimos que a educação formal é destinada a nos proporcionar os conhecimentos necessários que nos capacitem para viver em sociedade. Este paradigma, em breve, será demolido na civilização da inteligência.
Entretanto, sim, a escola é um primeiro ambiente social em que não estamos mais, durante o tempo que lá permanecemos, subordinados apenas aos nossos pais ou cuidadores.
A escola é o primeiro ambiente social que teremos para enfrentar, com todos os seus desafios, com todos os traumas que nos interpõe e com todas as habilidades sociais que somos forçados a desenvolver para garantirmos um mínimo de fronteiras sociais que nos insiram no “mundo selvagem dos adultos”.
Os conhecimentos e as disciplinas são, na escola do futuro, apenas pretextos para que aprendamos a compartilhar nossos espaços fora da família, a nos comunicar etc.
No passado, muito do papel que hoje atribuímos aos terapeutas era personificado nas figuras arquetípicas do sábio, do velho, do monge, do mestre, do mentor, do líder da comunidade, do padre, do conselheiro, do juiz etc.
Enfim, creio que tanto quanto o pintinho que quebra a casca do ovo para poder nascer, da mesma forma, nossa mente inconsciente se encarrega de nos desbloquear sempre que estivermos suficientemente maduros para isso, portanto, você não precisa se preocupar caso não tenha alcançado todos os resultados que buscava neste livro.
De fato, os próprios caminhos de vida que buscamos, frequentemente tem origem em nossas necessidades mais profundas de nos expandirmos e nos libertarmos de nossas mais íntimas amarras.
Conforme Joseph Campbell propõe, os desafios que nos são apresentados estão profundamente relacionados com as experiências de vida que devemos viver para despertar aquelas partes de nós capazes de nos transformar e nos amadurecer.
Logo, ainda acredito que mesmo que você não faça absolutamente nada para avançar em sua vida, ainda assim há uma pressão invisível e insensível (para a maior parte dos seres) para que avancemos junto com a evolução do Universo.
Retomando nossa reflexão em andamento, em última instância, trabalharemos com a estimulação do seu processo criativo (entenda isso da forma abrangente proposta anteriormente, que aponta para possibilidades de mudança e transformação), com a expansão de sua consciência e o aumento da sua percepção, dentro daquela perspectiva educacional dos processos de mudança – outra opção seria abordar o assunto a partir da perspectiva terapêutica (lembre-se da analogia sobre as estratégias de obter um copo de água limpa a partir de outro de água suja, proposta na Introdução e repetida no capítulo seguinte que trata dos Princípios das reflexões propostas neste livro). Esta é a principal finalidade deste e dos próximos apêndices.
Uma estatística proposta no livro Desafios e Oportunidades de Paul G. Stoltz, Ph.D., sobre a solução de problemas e o desenvolvimento de resiliência, publicado nos E.U.A., no ano 2000, estimava que a quantidade média de adversidades que um líder enfrentava diariamente, era da ordem de 23 eventos. Desde o ano 2000, nossa conectividade e interação através das tecnologias mais modernas dos smartphones e das redes sociais provavelmente já aumentou consideravelmente a quantidade média diária de tais desafios.
Neste período, os chamados graus de separação social, conforme a Teoria dos Seis Graus de Separação do Dr. Stanley Milgram, já caíram de seis para menos de quatro nesta última década!
Isto representa uma revolução silenciosa que prevê um colapso de nosso modelo social quando chegarmos a um valor entre dois e três graus de separação (não tenho espaço aqui para explorar este assunto interessante com propriedade, mas recomendo a pesquisa sobre este assunto). Esta teoria trata, em última instância, dos níveis hierárquicos que se manifestam em nossa cultura ocidental.
Desde o século de XIX, diferentes pesquisadores do comportamento começaram a fazer estudos sistemáticos de métodos de intervenção que pudessem ser mais efetivos em obter mudanças duradouras.
Parte deles estava em busca da essência dos processos de mudança e transformação humanas. Outros ainda tentavam identificar qual era o ponto de convergência entre tantas abordagens diferentes, isto é, como métodos tão diferentes, até mesmo antagônicos, conseguiam resultados?
Até aqueles dias, muitos dos sistemas estudados tinham grande orientação para o passado, tentando analisar e desativar as causas dos problemas humanos.
O estudo dos problemas de saúde (doenças) e dos comportamentos disfuncionais estão na origem da medicina e da psicologia.
Em algum momento da história, no entanto, emergiram questionamentos como os de Abraham Maslow, quando se deu conta de que poderia haver outras diretrizes para a pesquisa, representadas pelas perguntas: “E como as pessoas saudáveis mantém sua saúde?” ou “E as pessoas saudáveis, de alta performance, como elas funcionam?”.
As pesquisas de Maslow e seus contemporâneos criou a base de sustentação para o nascimento do movimento do Desenvolvimento do Potencial Humano, da Psicologia Positiva, da Psicologia do Esporte e de várias outros estudos sobre o comportamento humano que se dedicaram a entender como as pessoas bem adaptadas e de alto desempenho funcionam.
Começarei nossa breve descrição de fontes a partir da pergunta-chave que mobilizou alguns dos maiores pesquisadores da segunda metade do século XX e deu origem a maior parte dos métodos mencionados neste livro: “Tratando-se dos métodos de transformação e mudança do comportamento humano, qual é a diferença que faz a diferença?” ou “O que tantos métodos diferentes tem em comum que lhes garante efetividade” ou, finalmente, “O que realmente faz as pessoas mudarem seus hábitos?”.
A Hipnoterapia Ericksoniana, uma elegante e abrangente abordagem de solução de problemas de ordem terapêutica, foi desenvolvida pelo psiquiatra norteamericano Dr. Milton Erickson, durante muitos anos de prática clínica e psiquiátrica, partir dos métodos prévios da Hipnose Clássica.
Entre suas características mais marcantes está o método de expansão de consciência, como uma importante vivência para reformular pontos de vista e significados desatualizados, no processo de amadurecimento humano, ao longo das fases de vida.
Neste sentido, o transe hipnótico é sobretudo um despertar!
Esta proposição distingue em essência a Hipnose Ericksoniana da Hipnose Clássica, que pressupõe um conhecimento e um poder maiores como recursos do hipnotista, isto é, que supostamente o hipnoterapeuta saberia mais sobre a vida do seu cliente do que ele próprio, tornando-o capaz de receitar soluções adequadas de atitudes e comportamentos para os seus clientes ignorantes.
Na hipnose clássica, o transe é frequentemente associado a um processo de adormecer, devido principalmente à raiz do significado da palavra hipnose e ao próprio método que busca transes profundos e inconscientes.
Para os ericksonianos, o transe hipnótico é um despertar para a experiência interior que proporciona autoconhecimento e novas compreensões sobre a dinâmica dos conflitos humanos.
Uma descoberta de novas possibilidades de estimular o processo criativo inconsciente decorrente da exploração de distintas camadas da mente.
Paradoxalmente, grande parte do poder do Dr. Milton Erickson foi atribuída à sua incrível força interior, desenvolvida ao longo de sua vida tão desafiadora e incomum, na superação de diferentes tipos de adversidades.
Na adolescência fora vítima de múltiplas poliomielites que o paralisaram completamente, tendo sido desenganado pelo médico da família que o visitara em uma fase crítica de sua doença, na fazenda onde viviam.
Nesta ocasião, o único movimento voluntário que tinha no corpo inteiro era o dos olhos!
Muito indignado com a sentença de sua morte que o médico dera à sua mãe, ele decidiu viver, em princípio, para contrariar o prognóstico do médico, a quem considerava irresponsável por alertar sua mãe que ele não sobreviveria àquela noite.
Para isso passou a noite inteira lutando contra o sono, para não correr o risco de adormecer e não acordar mais! Ao raiar da manhã, satisfeito de ter provado a ignorância do médico, adormeceu e entrou em coma profundo por alguns dias.
Conseguiu heroicamente reunir forças internas e, depois de muitos desafios, superar suas restrições, voltar a falar, andar, formar-se médico, especializar-se, casar-se duas vezes e ter vários filhos, treinar vários discípulos profissionais e contribuir para a cura de incontáveis clientes ao longo de uma carreira de mais de 50 anos.
Além das poliomielites ele era disléxico e daltônico! De um modo geral, todas as suas limitações tornaram-se aliadas em suas espetaculares intervenções hipnoterápicas ao longo de sua vida. Seu próprio exemplo tornou-se um recurso de cura para seus clientes.
A Programação Neurolinguística nasce do estudo minucioso de incontáveis horas de gravações em vídeo das intervenções terapêuticas e dos padrões de comunicação efetiva de três dos mais brilhantes terapeutas estabelecidos nos E.U.A. na década de 1960 e 1970: Fritz Perls (Pai da Gestalt Terapia), Virginia Satir (Terapeuta Sistêmica de Famílias) e Milton H. Erickson (Pai da Hipnose Médica Científica Moderna, veja item anterior).
O estudo cuidadoso destes mestres da mudança revelou, conforme reconheceram Richard Bandler, John Grinder e Frank Pucelik (um dos co-criadores que somente ressurgiu das sombras na década de 2000), que o segredo não estava no estudo dos conteúdos, mas sim nos processos de comunicação e de representação da experiência subjetiva.
Eles também partiram da mesma pergunta: “Qual é a diferença que faz a diferença numa intervenção terapêutica bem sucedida?”. Eles apresentaram os primeiros resultados de suas descobertas no livro A estrutura da magia.
Descobriram, a partir do paradigma em que estavam inseridos, que parte do grande segredo era distinguir a experiência vivida no mundo real que se escondia por debaixo da linguagem das interpretações humanas, com suas generalizações, suposições, conclusões, crenças e convicções, frequentemente elaboradas a partir de percepções limitadas, distorcidas e generalizadas da experiência no mundo real.
De forma simples, o princípio do método está em distinguir a fantasia que elaboramos sobre o mundo do mundo real. Nós não vivemos no mundo, conforme costumamos acreditar!
Nós nos relacionamos com uma fantasia simplificada do mundo real, pois não conseguiríamos gerenciar conscientemente tantos estímulos, informações e memórias de uma só vez.
Então criamos as nossas ideias a respeito do mundo e passamos a agir como se elas fossem verdadeiras, como se fossem o mundo real, em vez de representações limitadas do mundo real.
O mundo real é muito mais rico, e nossa fantasia é muito pobre.
Podemos nos desenvolver quando tomamos consciência disso e nos dispomos a atualizar nosso modelo mental do mundo permanentemente, buscando aproximar nossas ideias da realidade percebida da própria realidade.
Enfim, poderíamos dizer que a PNL trata da “descristalização” da “substância” do pensamento, convidando-nos a estarmos mais presentes e atentos à realidade, para sermos capazes de atualizar permanente e rapidamente os modelos que construímos sobre o mundo.
Uma das maiores contribuições da PNL para o mundo, segundo David Gordon, um discípulo da primeira geração e um dos mais famosos colaboradores de Bandler, Grinder e Pucelik, é que a experiência subjetiva humana possui uma estrutura que pode ser decodificada, trabalho realizado na PNL que deu origem a um grande repertório de pressupostos e técnicas rápidas de mudanças de atitudes e de comportamentos.
Desejando responder às mesmas perguntas originais que instigaram outros cientistas, Eugene T. Gendlin, Ph.D., estudou com muita atenção incontáveis vídeos de sessões terapêuticas buscando pelas evidências do sucesso em vários métodos de intervenção e chegou a uma conclusão bastante diferente, a ponto de ser capaz de prever o sucesso ou fracasso de uma sessão de terapia ao assistir os primeiros três minutos dessa interação.
Pai da Focalização, Gendlin descobriu que uma sessão de terapia bem sucedida começava com uma questão ou conteúdo que fossem referenciados por sensações ou sentimentos, desde que não houvesse identificação com eles.
O sucesso não dependia do método, nem do brilhantismo do terapeuta, mas sim do quão conectado estivesse o cliente com suas sensações e sentimentos.
Desta forma, conseguiu reconhecer que o segredo do sucesso residia na atitude e nos hábitos do cliente, não na competência do terapeuta ou na eficácia da técnica e/ou da abordagem terapêutica. Havia três perfis mais comuns entre os clientes:
Aqueles clientes que se identificavam tanto com os problemas e viviam tão intensamente as emoções e sentimentos decorrentes (inundados), que não progrediam no amadurecimento e mudança de comportamento;
Os clientes que eram muito racionais e lógicos que se perdiam nos labirintos do intelecto, não conseguiam acessar suas emoções e sentimentos e, portanto, também não avançavam nos processos terapêuticos, pois transformavam suas sessões de terapia em verborragias sem fim, repletas de justificativas e interpretações limitantes e pouco úteis; e
E os que sabiam acessar as emoções e sentimentos associados aos seus pensamentos, conclusões e decisões, mas não se identificavam com elas (conforme os primeiros), logo eram capazes de reprocessar a informação de forma dosada, e alcançavam os melhores resultados, de quaisquer terapeutas com quaisquer métodos terapêuticos.
De fato, a maior parte das sessões terapêuticas fadadas ao fracasso começava por conversas, por reflexões, pela discussão ou debate sobre uma ideia, um pensamento ou um ponto de vista. Isso, em geral, levaria o cliente a um labirinto de ideias e muito blá, blá, blá, sem resultado algum.
Partindo destas descobertas, criou uma abordagem terapêutica que quase independia do terapeuta, orientando seus ensinamentos para os clientes. Um cliente, para colher seus melhores resultados de qualquer terapia, deve ser educado para saber como estimular seu processo criativo e colher os benefícios das sessões de terapia.
Eugene Gendlin é um dos pais da Fenomenologia moderna e seu trabalho continua se espalhando pelo mundo com o método chamado Focalização.
Ele é muito simples e elegante e é ativado pela conscientização dos sinais fisiológicos e sensoriais interiores que acompanham os processos de pensamento sobre questões verdadeiramente importantes ou não resolvidas.
Seu livro traduzido para a língua portuguesa tem como subtítulo Uma via de acesso à sabedoria corporal. A versão de língua portuguesa do livro foi publicada pela Editora Gaia e chama-se Focalização.
Ernest Rossi, Ph.D., hipnoterapeuta, psicobiólogo e matemático ítalo-norteamericano (um dos meus mais queridos mestres), um dos mais criativos colaboradores do trabalho do Dr. Milton Erickson, também buscava entender o que havia de consistente em tantas abordagens terapêuticas diferentes, várias delas com doutrinas conflitantes. Ele também baseou suas pesquisas naquela mesma pergunta original.
Estudando os casos de mudanças reais e significativas no comportamento e atitudes das pessoas, notou que as mudanças profundas são acompanhadas de alterações no código genético, capazes de ativar e/ou desativar genes e, portanto, influenciar processos metabólicos e fisiológicos. Por isso sua abordagem ficou conhecida como psicobiológica.
Suas explicações para esses fenômenos o levaram à conclusão de que uma mudança verdadeira pode ser acionada por qualquer abordagem que seja capaz de trazer uma nova experiência ou mudanças significativas na compreensão e/ou nos sentimentos das pessoas.
Isso significa que o poder de mudança de uma abordagem terapêutica ou de cura qualquer só é possível enquanto ela confrontar e desafiar as crenças e os hábitos do cliente. Uma mudança ocorre, portanto, não pelo novo conhecimento, mas pela autorreorganização natural do indivíduo que se segue à desestruturação ou desorganização de suas convicções anteriores, cristalizadas, promovidas por uma intervenção terapêutica.
O surpreendente e o inesperado, para Rossi, teria maior poder de mudança terapêutica. Então, uma sessão terapêutica eficaz somente ocorreria, seja lá com qual técnica for, se representar algo que desorganize um cliente; a cura ou o ganho terapêutico virá como consequência de seu esforço de reorganização provocado pela técnica ou pelo terapeuta!
Isso é válido não somente para intervenções terapêuticas, mas para qualquer conjunto de estímulos que sejam capazes de desorganizar os hábitos mentais, emocionais e/ou comportamentais de alguém.
Isto explica o fato de muitos ganhos terapêuticos não estarem associados à terapia formal, mas sim aos eventos e às experiências de vida de cada um de nós.
Os fundamentos científicos que dão sustentação a tais conclusões vem das pesquisas em neurociência e em neurobiologia a respeito das mudanças estruturais do cérebro diante de experiências enriquecedoras.
Isso é frequentemente observado também numa conversão religiosa qualquer, numa vivência mística transformadora, numa experiência emocionalmente significativa ou numa mudança de contexto de vida ou de ambiente profissional (aposentadorias, mudanças de cidade, separações etc.). Para compreender melhor isso, leia o texto a seguir, baseado nos ensinamentos do Dr. Rossi:
Uma das grandes descobertas da última década do século XX, que particularmente nos interessa enquanto educadores, é que o cérebro humano, muito diferente do que se acreditava no passado, cresce ao longo de toda a vida, se for devidamente estimulado!
A neurogênese (criação de novos neurônios), a neuroplasticidade (criação de novas conexões nervosas entre neurônios: sinapses) e a neuroproteção (presença de substâncias capazes de prolongar a vida de neurônios, de os abastecer e de reduzir seu estresse) tendem a ocorrer naturalmente a partir dos estímulos apresentados ao indivíduo, junto e graças à participação dos astrócitos (que para Rossi, também teriam a propriedade de se transformarem em neurônios em determinadas condições da “sopa neuroquímica” que circula entre os tecidos nervosos).
Assim, aquela história antiga, que contavam nossos avós, de que as nossas células nervosas possuíam quantidade limitada e decrescente ao longo da vida, já faz parte da história da ciência.
Entre outras descobertas de valor, incluem-se o reconhecimento das células tronco, disponíveis em nossa medula óssea, cuja grande versatilidade, permite que se transformem ou adquiram as qualidades de quaisquer outras células específicas de nosso organismo como se fossem “curingas”.
Bem, os pesquisadores descobriram a existência de três categorias de condições estimulantes que promovem o enriquecimento da “sopa neuroquímica” (neuroativadores, neuromediadores, fatores de proteção etc.) do sistema nervoso responsáveis pelo processo de formação de novos neurônios e novas sinapses, consequentemente, aumentando nossa rede neural e, portanto, expandindo nossa capacidade nervosa de estabelecer novos circuitos e consolidar novos “arquivos de memórias”.
Enfim, é possível aumentarmos nossa capacidade de aprendizado e de armazenagem de conhecimento.
Estas condições especiais incluem as experiências de vida que despertam nossa curiosidade, os estímulos do ambiente que nos exigem mudanças de hábitos, de atitudes, de comportamentos e tomada de decisão e os novos padrões de movimento corporal.
Tudo aquilo que nos maravilha, nos excita ou nos surpreende, nos desperta o interesse e a curiosidade de um modo geral, libera em nosso sangue tais substâncias neuroativadoras que despertam neurônios em estado germinal. E você bem conhece quais são as sensações e sentimentos correspondentes a esse estado interior de excitação e deslumbramento, paixão e interesse!
Todas as situações de vida que nos exigem mudar de ideia, de opinião, de sentimento, de atitude ou de hábito, tomar novas decisões e aprender novas competências também promovem o aumento da quantidade de células responsáveis pela retenção de novos aprendizados em nosso encéfalo.
E, finalmente, todos aqueles novos movimentos corporais, padrões de equilíbrio ou de coordenação motora, de gestos e movimentos ou percepções sensoriais, também, da mesma forma, induzem a produção das mesmas substâncias responsáveis pelo nascimento de novos neurônios e conexões nervosas e, consequentemente, aumentam a capacidade cerebral correspondente.
Portanto, se você estiver em busca de melhores competências de aprendizagem, mais flexibilidade e maior disponibilidade para lidar com as novidades do mundo, aqui vão algumas dicas: busque permanentemente estimulação para manter a produção daquela “sopa neuroquímica”; isto mantém a disponibilidade e a flexibilidade para aprender e torna muito mais fluida a aquisição de novas habilidades (as mais diversas), de novos conhecimentos, devolve a desenvoltura infantil para se expor a novas situações, aumenta a tolerância ao estresse, abre qualquer indivíduo para diferentes fontes de estímulos, devolve a sua curiosidade natural e o excita diante de ambientes ricos de novidades.
Isso justifica o aprendizado de um novo esporte de tempos em tempos, um novo instrumento musical a cada dois ou três anos, uma nova profissão ou habilidade, novos hobbies, novos idiomas etc.
Tais desafios podem até mesmo serem tomados pelo seu aspecto transcendente: aumentar nossa inteligência e capacidade de aprender, mantendo nosso sistema nervoso devidamente estimulado permanentemente, adiando a possibilidade de qualquer doença degenerativa se instalar ou criando condições para a renovação permanente.
Podemos assumir que parte desta estimulação sistemática contribua significativamente para aumentar a chamada Reserva Cognitiva.
Bradford Keeney, Ph.D., psicoterapeuta, ciberneticista e antropólogo norteamericano, um dos mais brilhantes discípulos de Gregory Bateson e compilador da Autocinética, compreende o processo de desenvolvimento pessoal, mudança e superação de adversidades de forma semelhante às ideias do Dr. Rossi: qualquer abordagem só tem o poder de transformar o indivíduo enquanto se apresentar como um novo desafio para o indivíduo.
Assim que um método qualquer se tornar suficientemente conhecido e familiar, ele perde o poder de promover mudanças significativas – o que é frequentemente observado entre profissionais das áreas de comportamento: muitos deles tornam-se refratários aos conhecimentos e métodos que ensinam ou utilizam com seus clientes.
Talvez seja por isso que tantos profissionais desta área, verdadeiramente comprometidos com o seu próprio desenvolvimento, mantenham-se em permanente atualização e acumulem tantas especialidades.
Assim, o que Bradford Keeney propõe como ciberneticista, antropólogo, terapeuta e xamã, iniciado em várias tradições ancestrais de cura, é que não exista formalismo algum e que o terapeuta seja permanentemente criativo, improvisador, inovador e evite molduras mentais de comportamentos e intervenções pré-programadas.
Enquanto o trabalho de Focalização baseia-se na percepção dos sinais corporais e mensagens na forma de sentimentos e sensações que podem guiar a consciência pelo universo das percepções interiores, a Autocinética de Bradford Keeney (e, posteriormente, o Shaking Medicine) busca libertar o movimento espontâneo do corpo, permitindo que a inteligência somática, acumulada em milhões de anos de aprendizado, conhecimento e sabedoria do sistema nervoso humano, ao longo de sua evolução, possam expandir a consciência de uma forma livre e criativa.
Bert Hellinger, um ex-combatente alemão da II Grande Guerra e, posteriormente, ex-padre marista, chegou a uma síntese brilhante de várias abordagens de terapia breve que o antecederam e desenvolveu as Constelações Familiares, cuja abrangência foi para além do trabalho sistêmico com famílias e é atualmente um rápido, poderoso e controvertido método de solução de problemas e de conflitos nos seguintes contextos: terapia, diagnóstico empresarial, consultoria e investigação de dinâmicas inconscientes e motivações profundas de indivíduos, grupos sociais e, até mesmo, nações.
Ainda não existem suficientes explicações científicas para os fenômenos observados nas Constelações Sistêmicas, como são chamadas atualmente, embora existam vários modelos teóricos cujos conhecimentos servem para explicar parte do que acontece nesta abordagem (veja os próximos apêndices).
Respeitando-se as descobertas dos cientistas anteriores, uma das vantagens das Constelações Sistêmicas é transformar cada intervenção brevíssima num enredo cuja criatividade não provém do intelecto do profissional que a conduz, reduzindo a chance de tornar-se mais do mesmo e perder o seu impacto por se configurar como uma resposta previsível, justificável ou conhecida.
Outros apêndices serão dedicados a este método, cujo modelo serviu para explicar vários padrões de bloqueios apresentados.
Além desses grandes mestres da terapia, do desenvolvimento e do autoconhecimento (meus principais referenciais), que buscavam respostas mais abrangentes para o estudo da consciência humana, há ainda outros gênios do crescimento e do aprimoramento, propondo distintos modelos, efetivos e complementares:
John Demartini, autodidata norte-americano, criou um método sistemático de desativação de cargas emocionais e de centramento da mente chamado originalmente de Collapse Process (Processo do Colapso), cuja denominação mais recente é Método Demartini.
Tecnicamente, o método se assemelha bastante ao Método Socrático de identificação de prós e contras, vantagens e desvantagens, ganhos e perdas, supostamente sempre equilibradas em qualquer situação.
Ele se utiliza de uma metáfora extraída dos princípios da Física assumindo o pressuposto que há um equilíbrio no universo entre o que podemos chamar de cargas positivas e negativas e, estendendo tais princípios para a realidade afetiva humana, propõe que todas as situações mantêm tal equilíbrio. Este método ajuda pessoas muito intelectuais a se equilibrarem e a encontrarem um centro entre distintas polaridades: bom e mau, bem e mal, certo e errado etc.
Assim, as pessoas somente sofrem por não reconhecer os aspectos positivos das adversidades ou os aspectos negativos daquilo com o que se deslumbram ou pelo que se apaixonam.
Quando a realidade nua e crua é reconhecida, podemos encontrar a devida neutralidade para nos livrar das cargas emocionais de sofrimento que nossas interpretações tendenciosas da realidade nos convidam a experimentar.
Segundo Demartini, se nos desequilibramos emocionalmente diante de determinadas experiências, positiva ou negativamente, é porque não reconhecemos a outra face da realidade.
Seu método é bastante interessante para estimular o processo criativo, lidar com situações de estresse e até mesmo de trauma, contribuindo de forma investigativa para a ressignificação de memórias de estresse.
É um método especialmente valioso para pessoas muito racionais ou intelectuais, pois leva este estilo de processamento mental ao colapso e abre a consciência para experimentar emoções e sentimentos de gratidão: estado que possibilita o tratamento elegante de algumas camadas das feridas emocionais (que em geral levam pessoas a construir hábitos muito racionais).
A Comunicação Não Violenta do norte-americano Marshall Rosenberg, Ph.D., é um modelo valioso de solução de conflitos e de resgate de uma forma de expressão mais adequada para os dias atuais.
Suas valiosas descobertas sobre uma forma elegante de evitar a violência dos nossos hábitos de comunicação relacionam-se em grande parte às suas experiências como vítima de bullying na infância e adolescência.
Os desdobramentos éticos de seu método são profundos e contundentes o suficiente para persuadir-nos a refinar nossos hábitos de linguagem e pensamento.
De forma bem resumida e simplificada, grande parte das soluções em conflitos advém da boa vontade de evitar os habituais julgamentos do que é certo e do que é errado!
Mais propriamente e de forma impactante, eu diria que a noção de certo e errado dá origem à violência!
A violência emerge quando supomos estar mais certos do que os outros, reivindicando razão ao desvalorizar as razões e motivações alheias, rotulando, criticando e/ou julgando outras pessoas ou partes com quem deveríamos negociar e/ou nos conciliar.
Só é possível uma negociação adequada quando renunciamos aos julgamentos e nos igualamos no reconhecimento das necessidades humanas, que dão origem às motivações humanas e nos igualam a todos – assim temos chances de nos reconhecer nos outros e identificar as nossas semelhanças. Isto nos possibilita cultivar a tolerância e buscar as negociações ganha-ganha.
Byron Katie era uma dona de casa norteamericana profundamente deprimida que vivia internada em casas de apoio e saúde e não dava conta de suas responsabilidades com mãe e esposa. Até que, depois de longo e intenso sofrimento, inesperadamente, em uma de suas crises de depressão, acorda no chão de seu quarto com uma nova consciência a respeito de si mesma e transforma-se, em curtíssimo espaço de tempo, numa reconhecida terapeuta capaz de ajudar multidões com uma fórmula relativamente simples na aparência.
Seu método, que tem grande poder de solucionar conflitos e reformular crenças antigas e cristalizadas, foi batizado como de The Work (O Trabalho).
Uma das valiosas qualidades de bons curadores e solucionadores de problemas está relacionada frequentemente com a sua experiência pessoal, de terem enfrentado muitas adversidades e superado grandes desafios.
Então falam com muita propriedade sobre perigos distintos do caminho e conseguem larga aceitação por já terem experimentado pessoalmente as sombras e dramas de visitar os “infernos” humanos.
Lucas Derks, Ph.D., um psicólogo social holandês, profissional criativo e atuante da Programação Neurolinguística, também deu uma importante contribuição para a PNL, para as Constelações Familiares e para o Coaching ao apresentar suas descobertas quando criou o Panorama Neurossocial, um modelo avançado de PNL que contribui elegantemente para a solução de conflitos e a compreensão das dinâmicas observadas nas Constelações Familiares.
Os desdobramentos atuais de suas pesquisas levaram-no a formular aquilo que chama de Psicologia do Espaço Mental, que parece abrir uma avenida de possibilidades para compreendermos e explorarmos mais uma dimensão da mente humana, a partir das suas representações espaciais inconscientes de pessoas, problemas e experiências.
Paul Stoltz, Ph.D., é um pesquisador norteamericano criador do modelo do Quociente de Adversidades e um dos maiores especialistas do mundo em resiliência, especialmente no contexto organizacional.
Seu trabalho é especialmente valioso para o nosso livro, pois explica alguns entraves encontrados comumente em processos de aprendizagem, decorrentes de falta de estratégias para enfrentamento e superação de obstáculos e desafios. Muitas pessoas sucumbem diante do que pensam ser problemas maiores do que são capazes de superar.
Stoltz também usa analogias semelhantes àquelas propostas em meu trabalho, quando sugere os princípios do enriquecimento de recursos daquilo que denomina de “sistema operacional humano”, isto é, nossos hábitos de como lidar com a sobrecarga de estímulos e de gerenciar o foco de atenção.
Esta abordagem destina-se à preparação do indivíduo (atualização do software mental) para o enfrentamento de adversidades, que nem sempre é possível com um software desatualizado.
No início da década de 2000, estimava-se que um executivo normal enfrentava, na média, 23 adversidades por dia, todos os dias! Pelo menos 23 eventos ocorriam no contexto organizacional, diariamente, que não tinham sido previstos nem incluídos nas agendas de trabalho.
Eles se configuram como sequestradores imprevisíveis de nossa atenção que, frequentemente, devem ser tratados com urgência, pois são inerentes àquilo que fazemos ou buscamos.
O Coaching é um método de questionamento estruturado usado em uma relação de aliança entre um profissional e um cliente ou equipe, cujos objetivos incluem a ativação do processo de cocriação através do incentivo, da estimulação, da reflexão e da expansão da consciência do(s) cliente(s), com a finalidade de solucionar problemas, desenvolver competências e conquistar objetivos.
Não é possível identificar quem exatamente criou o coaching, embora alguns autores atribuam parte das suas raízes ao psicólogo esportivo W. Timothy Gallwey, autor do famoso livro O jogo interior do tênis.
Acredito que houve vários criadores e o coaching emergiu de várias abordagens de ajuda orientadas para o futuro, que questionavam a eficácia de métodos que apenas pesquisavam pessoas disfuncionais e doenças no passado. Este método é um desdobramento dos movimentos norteamericanos de desenvolvimento do potencial humano.
Em algum momento da história do coaching encontraremos as ideias de Abraham Maslow e sua Psicologia da Autorrealização, precursora da Psicologia Positiva, além dos métodos terapêuticos breves, brevíssimos e/ou focados na solução.
A Experiência Somática (S.E.: Somatic Experiencing) é um método de terapia corporal breve, originalmente destinada ao tratamento do trauma de choque.
Embora o tratamento do trauma não seja um dos objetivos deste livro, desejo disponibilizar informações sobre diferentes abordagens de solução de problemas, de naturezas distintas. Além disso, também é útil levar em conta que um dos principais objetivos da Experiência Somática é compartilhado pelo nosso livro: a expansão de consciência.
Seu criador, Peter Levine, Ph.D., um psicoterapeuta rolfista norteamericano, partiu de um modelo simples de compreensão dos sintomas do trauma para elaborar este método elegante, rápido e eficaz que permite o resgate da vitalidade e do bem-estar, sem qualquer processo de interpretação de conteúdo ou jogos de linguagem próprios da abordagens psicoterápicas verbais preexistentes, muito mais lentas, que assumem que um cliente enfrentará muito sofrimento em sua jornada de tratamento, cura e solução, pois será necessário revisitar os traumas.
Rolfing é uma técnica de terapia corporal destinada a manipular o tecido conjuntivo do corpo humano que produz excelentes resultados em mudanças posturais enquanto contribui para reestruturar significados, despertar e reorganizar memórias de traumas.
A Experiência Somática é um método simples e profundo, destinado a manter nosso organismo e nossa mente despertos, limpos e brilhantes, cujos principais efeitos incluem o bem-estar, a presença no aqui e no agora, a prontidão e uma expansão da capacidade de enfrentar desafios (aumento da Resiliência).
É uma abordagem de terapia corporal breve que busca neutralizar cargas de estresse registradas em memórias do sistema nervoso com a intenção de ressignificar (renegociar) as experiências vividas, proporcionando uma redução perceptível do estresse, do desconforto, da dor e/ou do sofrimento de experiências passadas, presentes e/ou futuras.
Uma boa analogia para isso é o que chamamos de “esvaziar o copo” cheio de emoções, de contrariedades, de frustrações e de memórias de estresse, com o objetivo principal de evitar o transbordamento do estresse por mínimos eventos do dia a dia. Aquelas “gotas de insatisfação” que tanto contribuem para que as pessoas sofram muito, por pouco, ou se irritem mais do que o necessário.
Utilizando o modelo simplificado do Cérebro Triúnico, de Paul McLean, fica mais fácil de entender os princípios do S.E..
Tudo se passa como se em experiências que provocam grande estresse, tanto as dramáticas e inesperadas (como no trauma de eventos) quanto as crônicas e recorrentes (como no trauma de desenvolvimento e/ou de abuso), os três subsistemas do encéfalo (reptiliano, límbico e córtex) se sobrecarreguem e se dessincronizem parcialmente de sua operação sinérgica e integrada, para que o organismo possa suportar as experiências e armazenar suas memórias, até ser capaz de lidar com elas, compartimentando áreas de processamento cerebral sobrecarregadas com o estresse, para evitar efeitos e/ou danos generalizados.
É como se fosse possível, metaforicamente, construir uma barragem de represa que pudesse conter alterações abrangentes no sistema nervoso geradas por experiências traumatizantes. Este possui muitos circuitos neurais que operam em paralelo e sinergicamente, que servem para validar e construir percepções.
Diante da sobrecarga, parte desses circuitos são obstruídos para manter o sistema operando numa condição de sobrevivência, que isola parte dos circuitos sobrecarregados e limita o espalhamento da sobrecarga. Isso é mantido assim até tal sobrecarga ser reduzida ou interrompida, quando a congestão nervosa anterior possa ser descarregada, para que os circuitos voltem a funcionar em harmonia e sinergia.
Outra abordagem de grande valor para o nosso trabalho de desenvolvimento cognitivo e de desbloqueio provém dos trabalhos do psicólogo romeno Dr. Reuven Feuerstein, convocado pelo governo de Israel para avaliar os imigrantes judeus, de várias partes do mundo, que chegavam ao novo país em formação, nas décadas de 1950 e 1960.
O governo israelense desejava construir um programa educacional e para isso precisava conhecer os habitantes de diferentes origens e nacionalidades que chegavam ao país, muitos dos quais traumatizados, subnutridos, não educados, mutilados e vitimizados pela guerra.
Tendo trabalhado com Piaget, Feuerstein, aplicou testes de Q.I. à população em formação e descobriu que os resultados eram surpreendentemente baixos, insatisfatórios e desanimadores.
Porém, os testemunhos de seus colaboradores, aplicadores dos testes, que tinham contato direto com as pessoas avaliadas nos testes, fê-lo acreditar que tais pessoas eram inteligentes, embora os testes de Q.I. (predominantemente construídos para avaliar raciocínio lógico e linguagem) não fossem capazes de medir tal inteligência.
Posteriormente constatou que aquelas pessoas tinham grande inteligência prática, de sobrevivência, de solução de problemas e de superação de adversidades, das mais diversas naturezas, mas que tinham sofrido grande privação cultural durante os anos da guerra.
Eles também se mostravam capazes de serem bem sucedidos nos testes, desde que fossem mediados, isto é, desde que lhes fosse explicado o que era solicitado nos testes.
A partir desta constatação, começou a trabalhar na construção de um novo modelo de avaliações que pudesse identificar também o que tais pessoas já sabiam. Isso deu origem a um instrumento de avaliação de competências cognitivas e inteligências chamado L.P.A.D. (Learning Potential Assessment Device, não regulamentado no Brasil).
Não satisfeito com o método de avaliação, mas baseado neste, elaborou um conjunto de 14 instrumentos (baterias graduadas de exercícios) que possibilitasse àquelas pessoas de baixo desempenho, desenvolver as habilidades necessárias para serem capazes de responder aos testes do L.P.A.D. e aos testes de Q.I..
Esses materiais são hoje conhecidos em mais de cem países com o nome de I.E. (Instrumental Enrichment). No Brasil é conhecido como Programa de Enriquecimento Instrumental.
Já existe muita pesquisa científica empreendida para o estudo sistemático dos modelos de Feuerstein e de sua Teoria da Modificabilidade Cognitiva, já extensamente valorizada pelos seus resultados práticos.
A aplicação do PEI em crianças, jovens e adultos, promove o desenvolvimento da inteligência.
Em algumas reportagens, chega-se a proporcionar um aumento de até 20 pontos no Quociente de Inteligência. Isso possibilita, em Israel, a portadores de Síndrome de Down completarem o nível médio de educação (o que representa aptidão para vida em sociedade).
Feuerstein teve um neto portador da Síndrome de Down e seu filho inovou no método construindo o PEI Básico, destinado a indivíduos não alfabetizados.
Os jovens portadores da síndrome desta geração e das seguintes, têm sido capazes de completar o ensino superior e atuam no mercado, sem restrições.
Uma análise minuciosa das habilidades cognitivas desenvolvidas no PEI comparadas com o método dos mapas mentais, mostra facilmente uma sobreposição direta de quatro competências e uma correspondência indireta de mais cinco, do total das 14.
Isso dá corpo à hipótese de que o uso dos mapas mentais também contribui para desenvolver a inteligência.
Por isso, ao longo deste livro, incluí alguns mapas mentais (que mostram a estrutura das informações) e alguns mapas conceituais (que revelam a complexidade subjacente das relações entre conceitos).